Inimigos invisíveis do agricultor! Essa é a designação popularmente dada a uma das piores pragas que podem surgir e acometer seriamente o desenvolvimento das lavouras: os percevejos!
Dentro de uma vasta gama de insetos-pragas em lavouras, os percevejos merecem destaque. Essas pragas são consideradas “inimigos invisíveis” do agricultor, principalmente porque quando os estragos aparecem na lavoura, não há tempo hábil para reduzir os efeitos dos danos.
Exatamente por ser uma praga silenciosa, o percevejo precisa ser continuamente monitorado desde o começo do plantio e seguir por todo o desenvolvimento da lavoura. Para proceder com esse monitoramento, o velho e bom pano-de-batida se configura como uma ferramenta essencial.
Este é um método relativamente antigo, mas desde que foi desenvolvido na agricultura dos Estados Unidos, tornou-se excelente para a captura e avaliação de percevejos em lavouras.
Mas você sabe como funciona esse método e qual é a sua importância para melhor monitoramento de percevejos em lavouras? Confira nosso artigo de hoje e saiba tudo sobre essa estratégia.
Percevejos em lavouras: O que são?
Dentre as muitas pragas que apresentam maior expressão econômica em grandes culturas, como a soja e o milho, os percevejos merecem destaque, principalmente devido ao seu grande crescimento nas últimas safras.
Por definição técnica, os percevejos são insetos sugadores da subordem Heteroptera que pertencem à ordem Hemiptera. Dentro dessa subordem existem diversas famílias e espécies, as quais variam muito quanto ao hábito alimentar. Podem ser predadores, hematófagos, zoofitófagos ou fitófagos.
Na agricultura, podemos identificar os percevejos como pragas quando são das espécies fitófagas, que se alimentam de plantas. Em geral, elas consomem sementes, que são fontes de nutrientes com alto teor de nitrogênio.
Exatamente por isso, os percevejos estão diretamente associados com plantas no período reprodutivo. O que não descarta sua ocorrência em plantas novas, principalmente nas culturas de milho, trigo e soja.
Para saber mais sobre os percevejos da soja, as medidas de controle e, porque eles são considerados os inimigos invisíveis do agricultor, confira o vídeo abaixo, desenvolvido pela +Soja.
Principais tipos de percevejos em grandes lavouras
A diversidade de percevejos é bastante grande, mas em geral, existem quatro espécies mais frequentes nas lavouras, principalmente de soja e milho. São elas:
- Percevejo verde (Nezara viridula)
Percevejo-verde. Fonte: Promip
Apresenta maior frequência em regiões frias, caso do sul do país. Este é um percevejo polífago (se alimenta de plantas pertencentes a diferentes famílias), com capacidade de se manter ativo durante todo o ano em temperaturas mais amenas, ou em em hibernação após a colheita de soja no sul do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
- Percevejo pequeno (Piezodorus guildinii)
Percevejo pequeno. Fonte: Promip
Essa espécie é encontrada em todas as regiões produtoras do Brasil. Entretanto, é oligófaga (se alimenta de poucos tipos de alimentos). Essa espécie é reconhecida como a espécie de percevejo que mais causa danos na qualidade das sementes, na retenção foliar anormal nas culturas.
- Percevejo marrom (Euschistus heros)
Percevejo Marrom. Fonte: Promip
Dentre todas as espécies, o percevejo marrom é considerado a espécie mais abundante, tendo na soja seu principal hospedeiro. Ele consegue se adaptar às regiões quentes, sendo por isso predominante no Norte do Estado do Paraná, Centro-Oeste e Nordeste brasileiro.
Por se adaptar a climas quentes, ele é geralmente encontrado nas lavouras de soja entre os meses de novembro e abril, tendo a capacidade de produzir três gerações. O fato de o percevejo marrom permanecer sob a vegetação por cerca de sete meses, permite que ele consiga escapar do ataque de parasitoides e predadores na maior parte do ano, dificultando o controle.
- Percevejo barriga-verde (Dichelop ssp)
Percevejo barriga-verde. Fonte: Promip
O barriga-verde é, dentro os percevejos, aquele que tem menor ocorrência na cultura de soja. No entanto, causam danos nas lavouras de milho, especialmente em plantas jovens, onde causam o amarelecimento e lesões puntiformes nas folhas.
Igualmente, tem afetado o trigo, porém em menor intensidade.
Danos causados por percevejos em grandes culturas
Quanto aos danos, os percevejos são capazes de incidir nas culturas desde a fase vegetativa até a maturação, causando problemas diretos e indiretos de qualidade e rendimento da cultura.
Assim, em síntese, os percevejos possuem a capacidade de causar danos em três níveis diferentes:
- Danos leves: as folhas vão apresentar pequenos furos, porém sem implicar em maiores problemas para a planta, podendo causar até 5% de perdas.
- Danos médios: assim que sofrem o ataque, as plantas tendem a apresentar atraso no desenvolvimento e no rendimento, ocasionando até 22% de perdas.
- Danos severos: podem comprometer até 60% de perdas de produtividade, prejudicando inclusive, a formação de espigas nas plantas de milho.
Além disso, na soja, os danos diretos dos percevejos estão relacionados à perfuração dos tecidos para retirada de alimento, refletindo em enrugamento ou chochamento dos grãos, redução do peso de grãos.
Em contrapartida, nesta cultura os danos indiretos estão associados a retenção foliar ou “soja louca” (termo que designa um problema fisiológico com a planta que impede que ela mature no tempo correto), sintomas de haste verde e o favorecimento para fungos causadores de doenças em grãos que acometem em perdas antes e na pós-colheita.
Danos causados pelo percevejo na cultura da soja. Fonte: Agrolink
Dessa forma, na cultura da soja, os danos podem chegar a até 30% da produtividade, com apenas um percevejo por metro quadrado acarretando uma redução de 49 a 120 kg de grãos/ha.
Já no milho, a infestação de percevejos é uma das mais sérias entre todas as pragas que acometem a lavoura, podendo causar drástica redução da estatura da planta, chegando a reduzir em 43% em comparação a plantas não atacadas. A massa seca total da planta também será afetada, com uma redução de pouco mais de 65% em plantas infestadas, quando comparadas a plantas não infestadas.
Monitoramento de percevejos: O pano-de-batida é a melhor ferramenta!
Para o eficiente controle dos percevejos em grandes lavouras, o ideal é manter a população desta praga o mais baixa possível, ponderando inclusive a estratégia do manejo integrado de pragas (MIP).
A presença de folhas danificadas já se configura como um indicador dos percevejos na lavoura, mas o importante é saber qual será a população desta praga para tomar a decisão das melhores estratégias de controle. Por isso, o monitoramento semanal da população de percevejos representa uma medida imprescindível.
Na cultura da soja, por exemplo, fazer uso do pano-de-batida semanalmente é uma obrigação para ter uma boa amostragem da população de percevejos na lavoura.
Esse pano deve ser preferencialmente de cor branca, com 1 m de comprimento por 1,5 metro de largura (segundo medidas atualmente recomendadas), o qual deve ser estendido entre duas fileiras de soja. Assim, semanalmente uma fileira de plantas da área compreendida pelo pano deve ser sacudida vigorosamente sobre o pano.
Monitoramento de percevejos com o pano-de-batida na soja. Fonte: Agropos
Em seguida, os insetos (adultos e formas jovens dos percevejos) que caírem sobre o pano devem ser devidamente contados e anotados numa ficha de amostragem. A repetição deste procedimento deve ocorrer em vários pontos da lavoura.
Para que se possa avaliar a infestação das pragas na lavoura, sugere-se que o número de percevejos seja anotado em cada ponto de amostragem, para posterior cálculo da média da lavoura.
Vale salientar que o monitoramento de percevejos via pano-de-batida deve ser realizado preferencialmente nas horas mais frescas do dia, visto que a maior parte dos percevejos precisa elevar a temperatura corpórea para voar, assim o monitoramento em temperaturas mais amenas possibilita maior tempo para que os percevejos alcancem voo.
Como proceder com o manejo utilizando o pano-de-batida?
Veja a seguir um guia prático de como o pano-de-batida deve ser utilizado para o monitoramento dos percevejos:
- O pano-de-batida é introduzido enrolado entre as fileiras de soja de forma cuidadosa para não perturbar os insetos presentes na área, ajustando-se um lado na base das plantas, e o outro estendido sobre as plantas de soja da fileira adjacente (Figura a).
- As plantas presentes em 1 m de fileira são inclinadas sobre o pano e sacudidas vigorosamente (Figura b), deslocando-se os insetos para o pano (Figura c);
- Os insetos são contados e posteriormente registrados em fichas de monitoramento (Figura d).
- Por fim, procede-se com o cálculo da média da lavoura.
- Especificamente para percevejos, o nível de ação é de 2 percevejos por metro (em lavouras para grãos e 1 percevejo por metro (em lavouras para semente).
Sequência utilizada no uso do pano-de-batida em 1 m de fileira de soja.
Embora essa seja uma ferramenta bastante simples, o pano-de-batida é fundamental, pois possibilita o acompanhamento da flutuação populacional dos percevejos, permitindo o planejamento e execução de práticas de manejo e controle, preferencialmente com base no manejo integrado de pragas.
Para conhecer, na prática, como funciona o manejo de batida no pano, confira o vídeo abaixo, apresentado por Nestor Takeshi Kasai, Engenheiro agrônomo.
Mesmo sendo uma ferramenta simplista diante de muitas outras ferramentas tecnológicas que podem ser adotadas, o bom e velho “pano-de-batida” não deve ser desprezado devido à sua boa eficiência.
Sabemos que pode não ser fácil analisar todos os dados de pragas e do ambiente, especialmente se você pretende fazer isso em cadernos ou planilhas trabalhosas, por essa razão, se desejar ir além nesse controle, um software pode ser a melhor solução.
E você? Faz uso do pano-de-batida para o monitoramento de percevejos em suas lavouras? Essa ferramenta é eficaz para você? Conte para nós!
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