O Brasil tem tradicionalmente uma agropecuária muito forte. Nossos sistemas de produção alimentam mais de 800 milhões de pessoas em todo o mundo. Como consequência, nosso uso de fertilizantes é muito grande.
Tanto fertilizantes quanto adubos são considerados insumos de essencial importância para manter a fertilidade do solo e atender as necessidades das culturas.
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Porém, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, recentemente deflagrada em território ucraniano, está causando muita apreensão entre agricultores, produtores e toda a cadeia do alimento e a razão dessa apreensão faz bastante sentido.
De acordo com o balanço da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), nosso agronegócio importa cerca de 85% desse insumo que consome e mais de 26% de todo o volume vem da Rússia e de Belarus.
Dessa forma, a tendência é que resquícios da guerra atinjam nosso agronegócio, principalmente ao afetar a entrega de fertilizantes para nossos produtores.
Diante dessa preocupação, entenda como a guerra vai afetar o mercado brasileiro de fertilizantes e adubos. Já podemos adiantar que os efeitos são negativos e podem gerar muita apreensão, mas poderemos ter efeitos positivos.
O que são fertilizantes?
Créditos: Pasto Extraordinário
No ambiente da agricultura, os fertilizantes são peças-chave do manejo nutricional das plantas. Eles são substâncias minerais ou orgânicas, naturais ou sintéticas, que apresentam a função de fornecimento de um ou mais nutrientes vegetais que promovem o crescimento e desenvolvimento das plantas.
Dessa forma, é praticamente impossível promover a produção agrícola sem uso desse insumo. No meio agronômico, há cerca de 17 minerais que são essenciais para as plantas, mas merecem destaque os três macronutrientes principais: nitrogênio, fósforo e potássio (representados pela sigla NPK).
No campo, estes insumos são utilizados com muitos objetivos:
- Rápida resposta ao aumento de produtividade, contribuindo para maior rentabilidade e lucratividade do produtor;
- Atuam como ativadores de mecanismos de defesa da planta, mantendo a planta em estado de alerta e preparando-a para responder mais rapidamente aos estresses com menor gasto energético;
- Reduzem os impactos ambientais. Ao promover aumento da produtividade, diminuem o desmatamento, a erosão, a poluição da água e a emissão de gases que provocam o efeito estufa;
- Melhoram as propriedades físicas do solo, fornecendo nutrientes necessários ao desenvolvimento das plantas;
Dessa forma, os adubos e fertilizantes desempenham função primordial no desenvolvimento das plantas, sendo utilizado da semeadura até a irrigação, fornecendo ao solo e às plantas os nutrientes necessários para que a cultura possa germinar e produzir folhas, grãos e frutos.
Dependemos muito da importação russa
Por ser um grande produtor mundial de alimentos e ter solos naturalmente pobres em nutrientes, a agricultura brasileira se configura como uma grande consumidora de fertilizantes.
Em 2021, por exemplo, o Brasil consumiu mais de 40 milhões de toneladas destes insumos, que colocaram o país na quarta posição mundial no consumo de fertilizantes (atrás de China, Índia e Estados Unidos), segundo estudo estratégico elaborado pelo Ministério da Agricultura.
Porém, ocupamos a liderança mundial na importação desses insumos. De todo o montante de fertilizantes consumidos em nossas lavouras, 85% são importados. Mas o problema é ainda maior quando observamos que quase ¼ deste volume vem da Rússia.
A Rússia responde sozinha por 23% das importações brasileiras de fertilizantes. Em 2021, por exemplo, essas importações somaram US$ 15,2 bilhões (R$ 78,4 bilhões). Além do mais, Belarus (aliado da invasão russa na Ucrânia) é o sétimo maior exportador de fertilizantes ao Brasil, respondendo por 3% das nossas importações.
A Rússia é também o maior exportador de NPK mundial, considerados os três macronutrientes mais importantes para a nutrição das plantas. O nitrogênio é obtido a partir do gás natural, abundante na Rússia. Já o fósforo e o potássio são produtos minerais obtidos nas muitas minas presentes no território russo.
Crise mundial e mercado de fertilizantes: 3 consequências que devemos ficar muito atentos
Como vimos, o Brasil é um grande consumidor de fertilizantes e boa parte deles é importado da Rússia. Assim, mais cedo ou mais tarde, as consequências da guerra terão efeitos no Brasil, principalmente com a entrega de fertilizantes ao nosso agronegócio.
Dessa forma, a atual crise tende a afetar nosso agronegócio de algumas maneiras:
1 Teremos falta de fertilizantes
Segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), o Brasil ainda tem estoque de fertilizantes para até junho. Por outro lado, a Ministra da Agricultura Tereza Cristina disse, em recente entrevista para a CNN Brasil, que temos fertilizantes para até outubro, como podemos ver abaixo.
Ou seja, se a guerra persistir por muito tempo e as sanções ao mercado russo aumentarem, a tendência é que teremos dificuldade em negociar a compra de fertilizantes.
Para se antever ao problema, a diplomacia brasileira, via Ministério da Agricultura, está em negociações na busca por alternativas para substituir a oferta russa, a recente visita da ministra Tereza Cristina ao Canadá (outro grande produtor mundial de insumos) é um exemplo disso.
O MAPA também lançou recentemente o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF) que estava em desenvolvimento havia alguns anos e enfim foi apresentado. Por meio de muitas ações, o PNF objetiva maior equilíbrio entre a produção nacional e a importação de fertilizantes.
Segundo o documento apresentado, até 2050 há a expectativa de diminuição da dependência de importações de 85% para 45%, mesmo que a demanda por fertilizantes seja dobrada.
2 Os preços dos alimentos tende a aumentar
Outro ponto de grande impacto da guerra sobre nosso agro decorre da possibilidade de aumento nos preços de insumos (como fertilizantes e defensivos) e consequentemente de alimentos.
Segundo a FAO, a agência de alimentos da ONU, o atual confronto militar entre duas potências agrícolas deve levar ao aumento de mais de 20% em média nos preços de alimentos no mundo.
No mês de fevereiro (ainda antes da guerra) já havia registrado aumento da cotação do petróleo e dos fertilizantes. Mas, com o decorrer do conflito, há a tendência de elevação dos preços nos próximos meses, como salientado na reportagem da CNN Brasil.
Outra questão que pode elevar os preços de fertilizantes e de alimentos relaciona-se à logística marítima. Com a guerra, foram criadas muitas restrições que inibem temporariamente o fluxo de navios à região do conflito, acarretando dificuldades para transportar os insumos. Consequentemente, os preços mundiais tendem a se elevar.
3 Novas oportunidades serão colocadas à prova
Certamente, muitas serão as dificuldades que o produtor brasileiro enfrentará na próxima safra de verão, tanto na oferta quanto no preço de fertilizantes. Mas, o agricultor brasileiro tem resiliência e persistência em seu DNA.
Por isso, podemos olhar para essa guerra com uma visão totalmente diferente, buscando novas oportunidades diante das dificuldades.
Cabe ao agricultor brasileiro enfrentar o problema e ponderar outras opções, principalmente quanto ao uso mais sustentável de fertilizantes que ajudem na mitigação dos riscos.
Por exemplo, podem ser adotadas soluções para que o uso de fertilizantes seja mais eficiente. A simples análise do solo antes do plantio e a coleta de dados e informações sobre a fertilidade do solo já contribuem com um uso muito mais sustentável de fertilizantes e demais insumos.
Aplicação de fertilizantes a taxa variável. Créditos: Sensix
Além do mais, a combinação de ferramentas de agricultura de precisão e agricultura digital podem também alavancar os resultados da fazenda.
Por meio do cruzamento de testes de solo com outras camadas, caso dos mapas de colheita, plantio, pulverização e imagens de satélite, há a possibilidade de identificar os fatores de maior impacto na produtividade e tomar decisões mais assertivas, otimizando o uso de fertilizantes.
Tudo isso mostra que o agronegócio brasileiro não pode ficar esperando os próximos acontecimentos, cabe a cada agricultor investir em um eficiente planejamento técnico/agronômico/financeiro e em tecnologia de aplicação. Como resultado, ele terá maiores ganhos em produtividade, mesmo diante da crise.
Assim, se você é um produtor, monte um eficiente plano de ação em todas as esferas da sua atividade, inclusive no uso de fertilizantes. Não permita que um problema de suprimentos vire um problema de crédito para seu negócio.
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